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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Jerry Cantrell - Degradation Trip (Limited Edition) [2002]



Há momentos na vida de cada pessoa em que se chega a um ponto onde a alma atinge um estado de podridão e de decadência, sejam por acúmulo de frustrações, sejam por traumas insuportáveis, por mágoas engolidas, ou ainda pela soma de todos estes fatores. Nestas horas, uns dão cabo de si; outros acabam por perder a capacidade de assimilar a razão; mas alguns buscam um resto de força interior para se conscientizar que o melhor jeito de lavar a alma é trabalhar em cima do que fazem de melhor. Este álbum duplo foi o resultado de uma destas viagens interiores.

Jerry Cantrell, guitarrista do Alice In Chains (que aliás, vai merecer uma resenha posteriormente no nosso querido automotor), logo após o lançamento do seu primeiro disco solo, Boggy Depot [1998], se trancou em sua casa, apenas com um velho gravador de 4 pistas e uma Gibson Les Paul surrada, e escreveu 25 músicas. Mergulhado até o fundo em todos os seus fantasmas interiores, foi um processo ao mesmo tempo espontâneo e doloroso como estes não costumam ser.

"Eu entrei em um período para fazer estas composições que durou três ou quatro meses onde eu simplesmente continuei a expelir todas as merdas das profundezas da minha alma em todos os níveis e aspectos da minha vida. Lidei com uma série de fatores que não eram fáceis para mim de lidar verbalmente. Eu creio que seja mais fácil me expressar nestes aspectos através da música. Mas foi o trabalho mais difícil da minha vida. Estou orgulhoso do que fiz e estou orgulhoso por ter passado por esta experiência, mas certamente é algo que nunca mais quero passar na minha vida." - Jerry Cantrell, na sua auto-biografia.


Para colaborar na composição e instrumentação do álbum, e também dissociar o seu trabalho solo do trabalho no Alice In Chains (embora não muito), Jerry pediu emprestado para Ozzy Osbourne seu setor rítmico na ocasião (favor devolvido na ocasião da gravação do disco de covers do velho Ozzy, Under Cover, onde Jerry tocou todas as guitarras), seus amigos Robert Trujillo (Metallica, Black Label Society, Suicidal Tendencies) no baixo e Mike Bordin (Faith No More, Korn) na bateria. Inclusive Robert ajudou Jerry financeiramente a terminar de produzir o álbum, visto as dificuldades pelas quais Jerry passava no período, tanto financeiras quanto com arranjos de contrato com gravadora, chegando inclusive a penhorar sua casa para tanto. Mas ainda assim o álbum foi concluído, e logo após, a Roadrunner Records o acolheu novamente, ainda que restringindo o trabalho, das 25 músicas originais para apenas 14, com medo de que um álbum duplo fosse mal visto comercialmente. Uma versão limitada saiu posteriormente, com todas as 25 músicas, devido ao sucesso de crítica que o álbum foi na época.

Musicalmente, este álbum refletiu toda a escuridão que perdurava na mente do guitarrista. Embora com momentos mais descontraídos como em Give It A Name, She Was My Girl, Mother's Spinning In Her Grave e Pro False Idol, o clima geral do álbum é uma viagem interior. Sonoramente, em termos gerais, ele foi comparado ao antecessor, em termos de evolução sonora, como o Dirt evoluiu em relação ao Facelift (trabalhos pelo Alice In Chains). Tem muita coisa neste álbum duplo. Músicas pesadas, arrastadas (diria até sabbathianas) e que soam ainda mais fúnebres quando Jerry (que fez todos os vocais) coloca suas camadas de backing vocals características com sua voz grave e suave e seu som característico de guitarra, com guitarras Gibson Les Paul ligadas em cabeçotes Bogner e um overdrive safado ligado no talo. O trabalho da cozinha também facilitou muito, simples e intenso como Jerry preza, criando uma música pesada sem ser poluída. Exemplos disso são Psychotic Break, Hellbound e Dying Inside. Temos músicas tocantes e profundas, prezando pelo lado acústico com belas e sutis intervenções das guitarras, como 31/32What It Takes e Angel Eyes (esta última inclusive foi um dos singles do álbum, assim como Anger Rising). Temos músicas mais diretas e  pesadas, uma forma de desabafo mais enérgico, talequais Owned, a já citada Anger Rising, Bargain Basement Howard Hughes e a pesadíssima Spiderbite, um verdadeiro festival de batimento de cabeça. 



Mas o créme de la créme da produção deste álbum estão nas músicas mais introspectivas, que são onde Jerry mais se entregou, tanto musical quanto liricamente. Ora soando mais pesado, como Psychotic Break Castaway, ora com uma sonoridade totalmente suave, como em Solitude, ora puxando novamente suas raízes country, como em Gone Thanks Anyway, temos alguém regurgitando a podridão do coração em forma de música. Poucas vezes ouvi alguém colocar tanto a alma na ponta dos dedos e fazer a música falar por si.

Bom, temos aqui um trabalho cheio de altos e baixos. Não em termos de qualidade, mas sim de dinâmica. É um álbum pra se ouvir com carinho e com muito gosto, tendo em vista que, apesar de toda a carga emocional que ele carrega, é extremamente agradável. Até pelo fato de ser muito sincero.

Só a título de curiosidade: este álbum foi dedicado a Layne Staley, ex-vocalista do Alice In Chains, que (ironicamente, algo profetizado pela letra de Psychotic Break, até nem tanto pelo fato em si, mas pelo contexto que a letra conta) faleceu devido a uma overdose, um mês antes do álbum ser lançado. Na turnê de divulgação do álbum, Jerry conheceu a banda Comes With The Fall, e quis o destino que o vocalista William DuVall se tornasse futuramente o vocalista do Alice In Chains. Quando nos abrimos ao nosso destino, ele se revela por conta própria; ficou a lição.




Jerry Cantrell - vocais, violões, guitarras
Robert Trujillo - baixo
Mike Bordin - bateria, percussão
Chris DeGarmo - guitarra adicional em "Anger Rising"

Disco 1
1 - Psychotic Break - 4:10
2 - Bargain Basement Howard Hughes - 5:41
3 - Owned - 5:20
4 - Angel Eyes - 4:47
5 - Solitude - 4:03
6 - Mother's Spinning In Her Grave (Glass Dick Jones) - 3:56
7 - Hellbound - 6:48
8 - Spiderbite - 6:40
9 - Pro False Idol - 7:20
10 - Feel The Void - 6:59
11 - Locked On - 5:39
12 - Gone - 5:06

Disco 2
1 - Castaway - 5:01
2 - Chemical Tribe - 6:38
3 - What It Takes - 4:46
4 - Dying Inside - 6:28
5 - Siddhartha - 6:05
6 - Hurts Don't It? - 4:48
7 - She Was My Girl - 4:01
8 - Pig Charmer - 8:13
9 - Anger Rising - 6:16
10 - S.O.S. - 5:09
11 - Give It A Name - 4:04
12 - Thanks Anyway - 5:29
13 - 31/32 - 7:26



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GSM


5 comentários:

  1. Degradation Trip - CD 1 - 128kbps
    http://www.mediafire.com/?w0b8134o5x7pi60

    Degradation Trip - CD 2 - 128kbps
    http://www.mediafire.com/?d30evr0mg2hiu4a

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  2. ouvi este disco ha uns 4 anos atras e não tinha gostado muito..

    vou ouvir de novo pq eu acho q tava de mau-humor..

    gde resenha..

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  3. Grande resenha, esse cara é bom demais...

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  4. Há uns dez anos atras que comecei a ouvir esse álbum, quando tinha uns 18 anos. Mas hoje sinto que tive mais maturidade para compreender-lo. Excelente resenha.

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